Vinte anos já se passaram mais de desde as primeiras iniciativas de ações afirmativas em universidades brasileiras. Ao longo desses anos, instituições públicas de ensino superior foram palco de pressões de diversos movimentos sociais, principalmente do movimento negro. Essas pressões contribuíram para que as ações afirmativas, na modalidade de cotas, fossem progressivamente adotadas. O processo se consolidou com a aprovação da Lei n. 12.711 em 2012, que instituiu cotas socioeconômicas e raciais em todas as instituições federais de ensino superior. Essa legislação fortaleceu as ações afirmativas para diversas minorias, contribuindo para modificar o ambiente universitário e ampliar o acesso ao ensino superior.
Com a ampliação da presença de pessoas pretas, pardas, indígenas, com deficiência e quilombolas, mudanças significativas ocorreram na cultura acadêmica. Uma nova pedagogia está em curso. Currículos estão em descolonização, autores e autoras negros e indígenas têm sido revalorizados, e coletivos estudantis têm emergido em universidades por todo o país. Assim, as cotas têm promovido uma educação para as relações étnico-raciais, criando uma trajetória que parte das salas de aula em direção à lousa.
Os efeitos das cotas são visíveis além das universidades. O ensino superior tornou-se uma possibilidade de futuro para estudantes que antes não viam a universidade como uma opção. Isso levou à ampliação do acesso de egressos cotistas ao mercado de trabalho em posições mais qualificadas. Um novo vocabulário de lutas e ativismos foi criado com a interação entre estudantes, universidades, movimentos sociais e territórios. As cotas integram uma complexa rede de conquistas e tensões que questionam a ideia de democracia racial e a recusa da existência do racismo.
Nos últimos anos, as tensões políticas e morais foram acirradas com o fortalecimento da extrema direita, que, além de acentuar nossas feridas sociais, causou retrocessos em direitos conquistados. Nesse contexto, as universidades públicas foram especialmente afetadas, enfrentando cortes orçamentários que comprometem a permanência de estudantes cotistas e todo um projeto de transformação social em andamento.
Neste podcast do projeto Caleidoscópio das Ações Afirmativas, convidamos especialistas, ativistas e gestores para refletir sobre essas questões. Nosso objetivo é discutir o histórico das cotas, os desafios presentes e as perspectivas futuras das ações afirmativas. Com um caleidoscópio de múltiplas vozes, buscamos enriquecer o debate sobre uma das políticas mais eficazes no combate ao racismo e à desigualdade no Brasil.
O podcast Caleidoscópio das Ações Afirmativas está disponível em nosso canal do Youtube e no Spotify.
O podcast Caleidoscópio das Ações Afirmativas é um produto do projeto “Caleidoscópio das Ações Afirmativas: avaliações, experiências e alcances das políticas de cotas nas universidades públicas”, coordenado por Paulo Sérgio da Costa Neves e financiado pelo CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, edital Pro-Humanidades 2022. Este projeto conta com o apoio do estúdio Oswaldo Porchat da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, do estúdio Javali Filmes e da Fapesp – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, sob o número de processo (2022/16900-0).