Antonádia Borges é professora na UFRRJ, onde coordena o Programa de Pós-Graduação de Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade. Foi professora e pesquisadora em outras universidades no Brasil e também na Índia, Argentina, África do Sul e México. É membro titular do Comitê de Assessoramento de Antropologia, Arqueologia, Ciência Política, Direito, Relações Internacionais e Sociologia do CNPq.
Com trabalho de campo na África do Sul e experiência de gestão universitária no Brasil, tem se dedicado nos últimos anos ao estudo das políticas de ações afirmativas na educação superior. Interessa-lhe as articulações complexas e criativas que têm permitido a constituição de mundos prósperos em seus próprios termos, a despeito e em confronto com máquinas modernistas e desenvolvimentistas que engendram, aprofundam e disseminam o racismo e a segregação. Organizou com Joaze Bernardino-Costa o dossiê Dossiê “Dessenhorizar a Universidade: 10 anos da Lei 12.711, ação afirmativa e outras experiências”, publicado em 2022.
Uma construção etnográfica da vida de mulheres jovens rurais na universidade sul-africana contemporânea
O principal problema deste projeto é entender a composição da vida de mulheres jovens de origem rural nos espaços da universidade. Visa delinear uma transformação conceitual que rearticule de forma etnográfica o alcance analítico das noções de terra e de plantation, atualizando-as nos domínios da educação superior. O conceito plantation como operador analítico para pensar a vida na universidade de estudantes que vem do meio rural (ou periférico em geral) acrescenta uma dimensão inovadora a um capital acadêmico reconhecido e de grande impacto. Na contemporaneidade é mister situar os estudos sobre a terra e o rural ao lado de uma crítica epistemológica sobre o lugar ocupado por pesquisadores e pesquisadoras oriundos das chamadas roças na constituição das ciências sociais. Uma reflexão sobre o próprio fazer acadêmico, em perspectiva comparada com um país do sul global como África do Sul, em que a constituição do ensino público é marcada por características distintas das brasileiras, nos leva a problematizar os limites epistêmicos do conhecimento sobre o rural para além do valor do objeto em si (a vida na terra) e que ignora o problema e a persistência do racismo. A ideia de uma monocultura epistêmica com vistas a exploração e exportação de commodities intelectuais, com valor no mercado, funciona como oportunidade para pensarmos um modelo hegemônico de análise sobre a terra e o mundo rural feito a partir de recortes ontológicos que historicamente alijaram o conhecimento legítimo das pessoas negras e da roça.