Luciana Garcia de Mello

Professora permanente e coordenadora (2023 – 2025) do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFRGS. Mestre em Sociologia pela UFRGS (2005) e Doutora em Sociologia pela UFRGS e pela Université de Nice Sophia-Antipolis (2010). Coordenadora dos grupos de pesquisa Just – Trabalho e Justiça Social – e Baobá – Relações Étnico-raciais e racismo, ambos registrados no CNPQ. Integra o Observatório de Gênero da UFPEL. É membro da diretoria da Associação Nacional de Pós-Graduação em Ciências Sociais (ANPOCS). Coordenada o GT – Interseccionalidade: teoria e engajamento da Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS). É conselheira da Coordenadoria de Ações Afirmativas da UFRGS e faz parte da Comissão de Acompanhamento e Avaliação da política de ação afirmativa do PPGS/UFRGS. Foi membro da Comissão da Verdade e da Escravidão da OAB/RS. Tem experiência na área de docência em nível de graduação e pós-graduação em temas relacionados à sociologia do trabalho e à sociologia do racismo e das relações étnico-raciais. Seus temas de interesse são: racismo, desigualdades raciais, interseccionalidade, ações afirmativas, trabalho e justiça social.

Envolvimento com pesquisas sobre ações afirmativas

O envolvimento com pesquisa sobre ações afirmativas passou a ocorrer logo após a conclusão do curso de Doutorado. Se na etapa anterior, o foco de minhas investigações recaia, sobretudo, nas formas de produção e reprodução do racismo, focalizando especialmente o mercado de trabalho; na fase seguinte, passei a me dedicar ao tema do antirracismo. Nesse sentido, no ano de 2016 dei início à pesquisa intitulada “Depois da porta dos fundos: justiça social e a política de reserva de vagas na UFRGS”. O objetivo principal dessa investigação foi responder a três questões principais: a) como se distribuem os estudantes cotistas nos diferentes cursos oferecidos por essas instituições? b) quais as representações sociais dos docentes sobre os alunos que ingressam pelo sistema de cotas e sobre a política de ações afirmativas da Universidade? c) de que modo “ser cotista” influencia a identidade racial dos estudantes não-brancos? Os resultados dessa investigação foram publicados em periódicos científicos e em anais de eventos, tal como a ANPOCS e a SBS. Pode-se citar os artigos: “Ação afirmativa e liberdade social: a justiça das cotas e dos cotistas da UFRGS” e Da crítica à política: tensões entre reconhecimento e democracia racial na política de cotas da UFRGS”. Também tive a oportunidade de participar de algumas mesas redondas nacionais e internacionais para debater sobre o tema, destacando-se o Fórum sobre Ações Afirmativas em um contexto de mudança, realizado na ANPOCS de 2019, oportunidade na qual fui expositora na sessão Ação Afirmativa e pós-graduação – dilemas, desafios e experiências. Tive igualmente a oportunidade de participar da mesa-redonda realizada no Congresso da Brasa, 2022, apresentando o trabalho “A virada epistêmica nas universidades federais no contexto das ações afirmativas”. Em termos institucionais, atuo como Conselheira da Coordenadoria de Ações Afirmativas da UFRGS e sou integrante da Comissão de Acompanhamento e Avaliação da Política de Ação Afirmativa do PPGS/UFRGS. 

Resumo do projeto

A pesquisa tem por objetivo analisar as transformações de natureza qualitativa que vem ocorrendo no sistema universitário federal, a partir da adoção da política de cotas. Em termos mais específicos, busca-se investigar as formas de resistência e as transformações epistemológicas que são realizadas pelos alunos e alunas que ingressam por essa política. Nesse sentido, o objetivo geral é compreender de que modo a política de cotas se relaciona com um processo de virada epistêmica no sistema universitário brasileiro.

O foco da investigação é o Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFRGS, adotando-se como objeto analítico as teses e dissertações realizadas por alunos e alunas optantes pelo sistema de cotas. A pesquisa percorrerá o material produzido por esse grupo desde o início da política de cotas do PPGS em 2016 até o período atual, 2023. Visa-se identificar até que ponto os discentes cotistas estão realizando uma virada epistêmica e, posteriormente, analisando-se uma amostra da produção dos discentes não-cotistas, investigar-se-á se existe a disseminação de um novo modo de produzir conhecimento no ambiente acadêmico. 

Entre os objetivos específicos da pesquisa, pode-se citar alguns principais: 

  1. Analisar a produção acadêmica dos optantes pela política de cotas, procurando identificar como essa se relaciona com os saberes canônicos da área sociológica;
  2. Verificar quais são as referências bibliográficas e as correntes teóricas mobilizadas na produção dos discentes que ingressaram na política de cotas do PPGS;
  3. Analisar as metodologias empregadas nas pesquisas e os pressupostos epistemológicos dos alunos optantes;
  4. Comparar a produção acadêmica dos alunos optantes com aquela dos alunos que ingressaram pelo sistema universal.